“Fala com amor, ensina com sabedoria” (Pr 31, 26): reacendendo a chama da esperança através da Educação

Por  Professor Deivid Lorenzo

Educar é uma experiência incontestavelmente singular. Através das fronteiras da Educação, revelamos o que há de mais humano em cada um de nós, com o cultivo da cultura do encontro e do diálogo entre as pessoas. É também com a Educação que fazemos uma experiência que nos revela o Divino, afinal é no próprio Cristo que encontramos o grande referencial para a arte de educar, Ele, que vivenciou profundamente o encontro com pessoas de tantas origens, acolhendo-as e tocando-as em suas mentes e corações através de uma metodologia muito especial, fundada nas parábolas.

Muito embora esta seja uma experiência que corte o arco do tempo e acompanhe a Humanidade desde os primórdios, a arte de educar é um tema que continua a se apresentar dotado de atualidade. Aliás, o tempo presente torna urgente uma reflexão sobre como as sociedades estão a assumir a tarefa de educar, em meio a tantos desafios colocados pela contemporaneidade, tais como a globalização e os excessos da tecnologia, o consumismo e a cultura do descarte.

Buscando responder a essa necessidade, através da Campanha da Fraternidade deste ano, toda a Igreja no Brasil foi convidada a voltar seu olhar para a experiência da Educação. "Fala com amor, ensina com sabedoria": eis o lema que, extraído das Sagradas Escrituras (Pr 31, 26), deve iluminar de um modo especial nossa experiência de espiritualidade ao longo do período quaresmal de 2022.

Sob um olhar apressado, poderíamos imaginar que o tema desta Campanha da Fraternidade interessaria unicamente àqueles que exercem de modo direto uma atividade profissional no âmbito educacional. Não é esta, contudo, a proposta que nos é ofertada. Além de professores, estudantes e demais agentes da Educação, a provocação que emana da Campanha da Fraternidade alcança a toda a comunidade de fiéis, nos contextos da família, da paróquia e da sociedade civil.

Experimentamos, hoje, uma compreensão absolutamente equivocada em relação à Educação. O senso comum supõe que o conhecimento técnico deve servir a valores como “sucesso”, “progresso” e “utilidade”, tornando de menor relevância os valores éticos que, em verdade, devem nortear o conhecimento humano em todas as suas esferas e dimensões.

Precisamos estar convencidos de que educar é uma experiência traduzida fundamentalmente na emancipação ética da pessoa, na consolidação de sua condição de sujeito no mundo, um ser em constante relação. Esta experiência, dada a sua magnitude, não se satisfaz com o desenvolvimento de habilidades técnicas, nem pode estar represada nos espaços formais de conhecimento. Ela deve resultar da confluência de outros tantos mananciais, a exemplo da família e da sociedade civil, tal como nos aponta a Campanha da Fraternidade, em sintonia com o magistério da Igreja em nível universal, especialmente através do pontificado do Papa Francisco.

Já em 2015, a Igreja se deteve sobre os problemas sociais da atualidade, atrelando-os ao conceito inadequado que se desenhou para a Educação. Através da publicação da Carta Encíclica Laudato Si, o Papa Francisco salientou que os graves problemas emergentes no mundo, como a degradação ambiental, a desigualdade planetária e a crise econômica dela derivada não podem ser tomados isoladamente, mas haveriam de ser considerados, todos eles, como herdeiros de uma educação assentada precipuamente no paradigma que supervaloriza a tecnologia, que orienta a sociedade contemporânea1.

Dois anos depois, em 16 de abril de 2017, a Igreja, através da Congregação para a Educação Católica, publicou o texto “Educar para o Humanismo Solidário”2, propondo a

desconstituição da lógica de uma formação ética fundada no “progresso a todo custo”, tão valorizada pelo pensamento moderno, que estimula o individualismo e o consumismo no trato social.

Em 15 de outubro de 2021, foi lançado o Pacto Global pela Educação, com o qual o Papa Francisco sinalizou a importância do engajamento de toda a coletividade com o compromisso da arte de educar, ao recordar o adágio africano, que afirma que para educar uma criança é necessária uma aldeia inteira. É preciso ir além das fronteiras da escola, lugar muito valioso, mas não exclusivo do fenômeno educativo, para fazer reavivar os papéis da família e da sociedade.

É neste contexto e comungando com estes valores que se situa a reflexão que é proposta pela Campanha da Fraternidade, e que alcança a todos nós, dentro de nossa realidade familiar e de nossa realidade paroquial.

Em relação à família, grande é o desafio para superar a noção a ela atribuída pelo senso comum, consistente em sua compreensão como espaço meramente sentimental e de realização do prazer individual e egoísta, concretizador do que a Exortação Pós-Sinodal Amoris Laetitia denominou de “cultura do provisório”3. Conferir à família importância na tarefa educativa é reacender a responsabilidade da comunidade familiar e romper com a noção corrente de uma vida familiar anestesiada quanto aos compromissos educativos no curso das gerações.

Em relação à sociedade e, de um modo especial, a nossa comunidade paroquial, somos convidados a nos empenhar na contribuição de uma formação que tenha por propósito uma educação integral, ocupada com o compartilhamento de valores e ideais que não se curvem à lógica do mercado e do consumismo. Aos cristãos católicos incumbe a tarefa de acompanhar atentamente a oferta da educação formal, empenhando-se para que ela não resulte limitada à condição de ser uma atividade voltada apenas a formar técnicos, mas, sobretudo, pessoas.

É na adesão à proposta de uma educação fundada na tríade família-escola-sociedade que a Campanha da Fraternidade reconhece o caminho para a formação plena do cidadão: uma educação de cunho humanista, centrada na pessoa e que gere um compromisso com a vida em comunidade. Esta é a tônica da reflexão proposta, em total sintonia com o magistério do Papa Francisco, quem nos ensina que “optar por formar a pessoa significa optar pela cultura do encontro no qual olhar o outro humano é também encontrar o rastro do Outro.”

Aos leigos, que ocupam os espaços formais e informais da experiência da educação, a mensagem ora delineada deve ecoar de um modo eminentemente intenso, sedutor e oportuno. Temas como a educação humanista e a centralidade da pessoa precisam ser iluminados nos mais diversos espaços de expressão social ocupados pelos leigos.

Permitamo-nos, pois, estar sensíveis à proposta esboçada pela Campanha da Fraternidade, contribuindo para acender a chama da esperança em nossa comunidade paroquial, nos lugares que ocupamos na sociedade, em nossos lares e em nossas vidas. Que o Cristo, Grande Educador, nos abençoe e que a Rainha do Rosário de Fátima interceda por nós nesta trajetória missionária!


1 LAUDATO SI. Ed. Paulinas, São Paulo: 2015, p. 87.
2 EDUCAR PARA O HUMANISMO SOLIDÁRIO. Ed. Paulinas, São Paulo: 2017
3 AMORIS LAETITIA. Ed. Paulinas, São Paulo: 2016, p. 33

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