O sentido do Ser Humano

O sentido do ser humano

 

A questão do sentido é uma emblemática inerente ao indivíduo que busca o motivo de sua existência. Há na pessoa humana a necessidade de dar significado ao que faz e de dar sentido à vida, de compreender como é o seu próprio ser. Ao mesmo tempo que esta questão tem uma noção existencial, ela é antropológica. Logo, a Antropologia teológica vem se aprofundando em revelar “o humano ao humano” observando todas as suas nuances. Assim, abordar-se-á neste artigo a perspectiva dessa ciência teológica que caminha rumo ao estudo e esclarecimento desta questão.

De antemão, a Igreja Católica está sempre atenta à necessidade do indivíduo em cada tempo (GS). Adiante, “a existência humana permanece um mistério ao homem mesmo, tão quanto outrora” (ZILLES). Portanto, é salutar a atenção da Igreja em observar as necessidades do ser humano, pois a cada período surge uma nova geração, uma nova linguagem, uma nova maneira de entender o sentido de ser e existir do indivíduo. Em uma noção etimológica denomina-se como seres humanos, contudo, a questão do sentido abarca a essência do ser humano e que o leva a questionar sobre o motivo de existência, o sentido da vida, o ‘sentido de ser humano’.

O Catecismo da Igreja Católica testemunha que “por amor, Deus revelou-Se e deu-Se ao homem. Dá assim uma resposta definitiva e superabundante às questões que o homem se põe a si próprio sobre o sentido e o fim da sua vida”. Conforme a Revelação Divina é revelada na história da humanidade, Deus enviou seu Filho único para encarnar na história e deu-Se inteiramente à humanidade. Sendo Deus e homem, Jesus dá sentido à humanidade, ao revelar-Se, n´Ele o homem pode encontrar as respostas das questões da vida, “pois somos criaturas dele, criados em Cristo Jesus para boas obras que Deus já antes prepara para que nelas andássemos” (Ef 2, 10).

É sabido que no fim da vida virá a morte, e por vezes, parece que este é um ponto a vagar entre os questionamentos da vida e o seu termo. Contudo, o ímpeto de procurar respostas atravessa a história. Desde o momento que a humanidade passou a estimular seu saber,a princípio com os filósofos naturalistas, busca responder questões sobre sua existência e sobre o sentido de viver. Antes, é interessante perceber a ligação existencialista e antropológica vinculada à questão do sentido. Sucessivamente, o Catecismo ressalta que o Verbo encarnado é a resposta “definitiva e superabundante” a respeito deste questionamento.

[...] é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático. (Gaudium et spes. 1965. n. 4).

Do meado ao final do século XX houve uma mudança de época, o surgimento do existencialismo com Jean-Paul Sartre, as crescentes ideias ideológicas (sendo difundida atualmente), o começo do desenvolvimento da Antropologia teológica com Paulo VI e depois João Paulo II, Viktor Frankl com a Logoterapia (tendo maior desenvoltura nos tempos atuais) que, de certa maneira, modificaram e contribuíram para a realidade deste tempo. Com isso, à luz do Evangelho, a ciência teológica, em conjunto com a Igreja percebe a importância de refletir sobre o sentido da vida, olhando para o passado, analisando o futuro, vivendo o presente. O pontífice Francisco na carta Encíclica Frateelli Tutti acena sobre o presente:

[...]Buscamos o resultado rápido e seguro, e encontramo-nos oprimidos pela impaciência e a ansiedade. Prisioneiros da virtualidade, perdemos o gosto e o sabor da realidade». A tribulação, a incerteza, o medo e a consciência dos próprios limites, que a pandemia despertou, fazem ressoar o apelo a repensar os nossos estilos de vida, as nossas relações, a organização das nossas sociedades e sobretudo o sentido da nossa existência. (Francisco, 2020, n.33).

Ele ainda ressalta o esvaziamento e a obscuridade do sentido social, cultural, econômico, histórico e humano que cresce no meio atual. Conseguinte, revela as questões que diminuem o ser humano distanciando-se do Humano que dá dignidade ao sentido de ser humano, descreve também, os princípios religiosos acerca do sentido sublime da vida humana que corresponde a necessidade de preceitos básicos da nossa condição comum, “valores em nome dos quais se pode e deve colaborar, construir e dialogar, perdoar e crescer, permitindo que o conjunto das diferentes vozes forme um canto nobre e harmonioso, e não gritos fanáticos de ódio” (Francisco).

Portanto, o olhar atento da Igreja continua a observar e a ajudar a humanidade no exercício de compreender o sentido da vida, e primeiramente, o sentido de ser humano. “Portanto, quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1Cor 10, 31). Ou seja, em tudo é necessário saber, ter e dar sentido, que tem sua totalidade em Deus, Aquele que chamou à vida cada pessoa humana.

  1. Zilles, indica que “o sentido também nos é dado pelo contexto maior que nos envolve”, pois o ambiente em que nasce e que vive o ser humano, contribui a dar norte sobre quem ele é e o que este quer ser. Todavia, é preciso se localizar neste contexto maior que é capaz de dar sentido à vida, pois é um fator que corrobora com o sentido empreendido pelo ser humano. Sendo assim, pode-se dizer que o contexto externo ao ser humano influencia na busca e/ou perda do sentido de si e da vida por terem diversas realidades que confundem a compreensão de quem de fato é.

Que é o homem? O Salmo 8 é um dos maiores questionamentos bíblicos antropológicos que coloca o próprio homem em uma condição diante do próprio Deus interrogando a respeito da realidade humana. O Salmo ainda retrata a primazia de Deus em amar o ser humano, dando beleza e realeza à humanidade e colocando acima de todas as outras obras feitas pelo Criador.

Sentido é algo que damos à nossa vida. A vida é um caminho que nos leva a participar numa realidade maior, que é significativa para além do momento e dos limites de nossa existência. Sob essa perspectiva, até obstáculos como o sofrimento podem adquirir sentido positivo.

(Zilles, 2011, p. 129).

O ser humano é aquele pode dar sentido a sua vida olhando para Jesus, o Deus feito homem que ensina a humanidade a ser humana. Contudo, serão os únicos responsáveis por buscar o sentido de ser humano. Essa busca “é a motivação primária em sua vida, e não uma "racionalização secundária" de impulsos instintivos. Esse sentido é exclusivo e específico, uma vez que precisa e pode ser cumprido somente por aquela determinada pessoa.” (FRANKL).

Por conseguinte, a Igreja contribui por meio da antropologia teológica a dar suporte para essa motivação inerente ao indivíduo. Adiante, a procura do sentido é um “desejo do ser humano por uma vida tanto quanto possível dotada de sentido” (FRANKL). É certo colocar sentido na vida, pois desde a criação o homem tem o encargo de nominar, de dominar, isto é, dar significado a tudo que gira ao seu redor. Porém, por diversas circunstâncias a humanidade passa por momentos de esvaziamento de sentido, até mesmo do sentido de ser homem e mulher.

O homem atual está a caminho de um desenvolvimento mais pleno da personalidade e uma maior descoberta e afirmação dos próprios direitos. Tendo a Igreja, por sua parte, a missão de manifestar o mistério de Deus, último fim do homem, ela descobre ao mesmo tempo ao homem o sentido da sua existência, a verdade profunda acerca dele mesmo. A Igreja sabe muito bem que só Deus, a quem serve, pode responder às aspirações mais profundas do coração humano, que nunca plenamente se satisfaz com os alimentos terrestres (Gaudium et spes, 1965 ,n.41).

As profundezas do coração humano se depara com o anseio de buscar a felicidade e a questão do mal neste percurso de encontrar o sentido de ser, viver e morrer. Tal drama é caracterizado pela falta de compreensão da liberdade, do sentido da importância da história, do valor que o próximo tem na sociedade, etc. Ainda se costuma deparar com o mal que é incompreensível, como afirma Zilles, e acrescenta: “Em nossa vida há coisas como o mal às quais não conseguimos dar sentido. [...]Todos gostaríamos de experimentar coisas boas. Entretanto, a experiência do mal se torna inevitável”. Nos deparamos com o mal “na forma da morte, do sofrimento, da miséria, da guerra, da insegurança e da violência” (ZILLES).

E não faltam os que, desesperando de poder encontrar um sentido para a vida, louvam a coragem daqueles que, julgando a existência humana vazia de qualquer significado, se esforçam por lhe conferir, por si mesmos, todo o seu valor. Todavia, perante a evolução actual do mundo, cada dia são mais numerosos os que põem ou sentem com nova acuidade as questões fundamentais: Que é o homem? Qual o sentido da dor, do mal, e da morte, que, apesar do enorme progresso alcançado, continuam a existir? Para que servem essas vitórias, ganhas a tão grande preço? Que pode o homem dar à sociedade, e que coisas pode dela receber? Que há para além desta vida terrena? (Gaudium et spes, 1965 ,n.10).

Compreender a questão do sentido estar aquém de ser totalmente esvaziada. É esta questão que sujeita ao humano entender o sentido de ser humano, de perceber o valor e o sentido que a vida tem e se encontra no Criador, refletir sobre o sentido do fim da vida. Contudo, Paulo VI na constituição pastoral Gaudium et spes dá esperança para poder encontrar, entender e ajudar a significar o valor que tem na reflexão e resposta desta questão. O que a motiva a ir na direção da busca de felicidade.

“A busca da felicidade da vida é uma força impulsora essencial na existência humana” (ZILLES). Procurar a resposta para a questão que aqui se está abordando sugere inerentemente encontrar com a temática da felicidade, pois saber o sentido da vida sacia a existência do ser humano que, por sua vez, entende o sentido de ser humano. Frankl ensina aos seus alunos que “A felicidade deve acontecer naturalmente, e o mesmo ocorre com o sucesso; vocês precisam deixá-lo acontecer não se preocupando com ele”. Assim acontece quando o ser humano encontra o sentido.

O livro do Eclesiastes pergunta por aquilo que pode trazer felicidade ao homem (Ecl 1,1-11). Tudo isso não torna o homem feliz para sempre. O que, segundo ele, permanece é a alegria da plenitude presente: “Eis que a felicidade do homem é comer e beber, desfrutando do produto do seu trabalho; e vejo que também isso vem da mão de Deus” (Ecl 2,24). (Zilles, 2011, p. 129)

Ademais, a história da humanidade revela que a questão do sentido é presente na humanidade, contudo, é uma questão que urge um aprofundamento e conhecimento por ser um questionamento que está entranhado na essência do indivíduo. O ser humano, por sua natureza, dar sentido a todas os seres vivos, a todos os objetos, a todas as coisas, porém esvaziasse do saber de si mesmo. Na busca do sentido, o sujeito cria ideologias que trás atributos que obscurece o percurso do sentido da vida. A vida perde seu valor e o valor do sentido esvazia o indivíduo de ser humano.

Cristo, homem e Deus, desce até a natureza humana e dá ao ser humano o exemplo de como procurar e encontrar o sentido de ser, que é n´Ele próprio. Consequentemente, a questão do sentido é um tema pertinente a ser aprofundado pela Antropologia teológica, pois conduz ao sublime e sagrado sentido da vida e de ser humano, que encontra seu sentido na imagem e semelhança de Deus, que em Seu Filho é “revelado na humanidade, não só deu o exemplo, para que seja seguido ao contemplar os seus passos, mas também abriu um novo caminho, em que a vida e a morte são santificados e recebem um novo sentido”(GS).

Por Caio Silva

Seminarista, Filosofo e estudante de Teologia

Arquidiocese de São Salvador da Bahia

 

REFERÊNCIAS:

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 6.ed. São Paulo: Loyola, 2002.

Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes.

São Paulo: Paulus, 1997. (Documentos da Igreja).

FRANCISCO, papa. Fratelli Tutti. Vaticano: colocar a data da publicação. Disponível em: colocar o link do site do Vaticano. Acesso em:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003 _enciclica-fratelli-tutti.html 30 de nov de 2020.

FRANKL, Viktor, E. Em Busca de Sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 1991.

ZILLES, Urbano. Antropologia Teológica. 1. Ed. São Paulo: Paulus, 2011.

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