“Todos os caminhos levam à morte, então, perca-se!" – Jorge Luis Borges
Essa frase, à primeira vista, pode parecer sombria, até mesmo niilista. O niilismo é a crença de que a
vida não tem sentido, de que tudo termina no vazio — uma visão marcada pela ausência de propósito,
fé ou transcendência. Mas ao olharmos essa citação com olhos de fé, ela nos provoca a enxergar algo
mais profundo: se a morte é inevitável, então que o viver seja pleno, entregue, cheio de propósito,
cheio de Deus.
Sim, todos os caminhos levam à morte — mas a fé nos lembra que a morte não é o fim. Para quem
crê, a morte é passagem, é retorno ao Pai. Portanto, perder-se aqui não é desistir da vida, mas sim
mergulhar nela com inteireza, entregar-se ao amor, à missão, à presença real de Deus em cada fase
da nossa existência.
Deus, ao nos conceder cerca de 80 anos neste mundo (cf. Salmo 90,10), não nos deu apenas tempo,
mas um caminho de encontros com Ele. E como pais, mães, filhos e irmãos, vivemos diversas
estações — fases em que somos chamados a reconhecer a presença de Deus e vivenciar a honra de
sermos colaboradores d'Ele na formação e no cuidado das almas.
1. A Infância: Tempo de Encantamento e Confiança
Na infância, somos totalmente dependentes. Assim também é nossa caminhada inicial com Deus —
Ele nos sustenta, nos cerca de amor, nos ensina a andar.
"Deixai vir a mim os pequeninos, e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus." (Marcos 10,14)
Os filhos que recebemos como pais são sementes da eternidade plantadas no tempo. Por
apenas quatro anos, eles serão bebês — e essa fase exige mais do que cuidados, exige a
escolha diária de amar e zelar pela vocação que Deus confiou a nós. Depois, eles crescem —
e, junto com eles, amadurecem também nossas responsabilidades espirituais."
2. A Infância dos Filhos: O Tempo da Presença
Você só terá sete anos de apresentações escolares. Sete chances para ver seu filho cantar, dançar
ou apenas sorrir ao te procurar no meio da plateia. Perder um momento assim é perder mais do que
um evento: é perder um elo de amor e segurança que constrói o futuro.
"Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele."
(Provérbios 22,6)
Na vida com Deus, também há momentos únicos. Ele nos chama à presença. Não apenas à oração
formal, mas à presença real, constante, amorosa. Quantas vezes deixamos de “assistir” o que Deus
está fazendo em nós por estarmos distraídos?
3. A Juventude e o Entusiasmo: Tempo de Escolhas
Na juventude, temos a ilusão da imortalidade. Mas é aí que decidimos os rumos da nossa fé e da
nossa família.
"Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias..." (Eclesiastes
12,1)
Ser pai/mãe na juventude da vida é escolher estar presente mesmo quando há tantas demandas. É
viver com propósito e não apenas sucesso. É saber que a honra que Deus nos deu — ser pai, mãe, guia
— exige doação, paciência, sacrifício.
4. A Maturidade: Tempo de Frutos
Na fase adulta e madura, os filhos crescem. O palco da escola é substituído por outros. E os olhos que
antes te buscavam na plateia, agora procuram por sabedoria e exemplo.
"Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo." (1 Coríntios 11,1)
Na caminhada com Deus, a maturidade se reflete em dar frutos que permanecem (João 15,16). Os
filhos se tornam reflexos da fé que cultivamos em silêncio, com constância e amor.
5. A Velhice: Tempo de Transmissão e Esperança
O tempo passa. Os filhos têm seus próprios filhos. E então descobrimos que a vida foi mesmo um
passeio — belo, desafiador, breve. Mas não termina em si mesma.
"Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé." (2 Timóteo 4,7)
A velhice com Deus é tempo de gratidão e herança espiritual. Tempo de ser avô e avó da fé, como
foram Abraão e Sara, Simeão e Ana, no Templo.
Conclusão: Honra e Presença Como Caminho de Santidade
A honra que Deus nos concede é ser presente. É olhar para os 80 anos da vida como o dom de
caminhar com Ele, em cada fase, especialmente na missão de ser pai e mãe.
"Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão." (Salmo 127,3)
Não deixe que os pequenos momentos passem despercebidos. Cada apresentação, cada abraço,
cada “papai, olha pra mim!” é uma liturgia doméstica, um culto do amor que Deus celebra conosco.
Perca-se, sim — mas perca-se no amor, no chamado de Deus, no privilégio de estar. Porque, no fim,
quando todos os caminhos levam à morte, só permanece o amor vivido com Deus nos confiou.
Andrei João A dos Santos
Coordenador de Pastoral – Paróquia Nossa Senhora de Fatima, Stella Maris
Salvador BA
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